Antigamente, entendia-se saúde como a ausência de doenças ou enfermidades físicas. Entretanto, essa visão mudou conforme a ciência mostrou a importância de cuidar também da mente. Nesse campo, destaque para a Síndrome de Burnout, uma doença mental que tem afetado cada vez mais os profissionais, especialmente os trabalhadores da área da saúde durante a pandemia.
A Síndrome de Burnout, ou Síndrome do Esgotamento Profissional, foi descrito pela primeira vez em 1974, pelo psicanalista Herbert Freudernberger. Na época, Freudernberger analisou os efeitos da exaustão física e mental que os profissionais da saúde enfrentavam como consequência de cuidar de pacientes usuários de drogas. Todavia, o médico entendeu que o esgotamento era uma consequência da relação com o trabalho, independentemente da atividade exercida.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como um “completo estado de bem-estar físico, mental e social”. Ou seja, uma pessoa saudável está bem física e emocionalmente. No mundo contemporâneo, a sobrecarga mental ocasiona uma série de doenças (estresse, ansiedade, depressão, entre outras).
No caso dos trabalhadores da saúde, como médicos, enfermeiros e técnicos em enfermagem, essa situação ficou ainda mais complicada com a pandemia do coronavírus. Entenda mais sobre isso a seguir!
O que é burnout?
A Síndrome de Burnout é uma doença mental, resultante de um estresse crônico no ambiente de trabalho que não foi gerenciado de forma eficaz. É conceituada como uma síndrome ocupacional que pode desencadear sentimentos de exaustão, esgotamento de energia, distanciamento mental das atividades, sentimentos negativos ou cinismo relacionados ao próprio trabalho e diminuição da produtividade.
Recentemente, a OMS incluiu a Síndrome de Burnout na nova Classificação Internacional de Doenças (CID-11), que deve entrar em vigor a partir de janeiro de 2022. Essa doença é entendida como um fenômeno ligado ao trabalho. Como tal, apresenta alguns grupos de riscos, incluindo médicos, enfermeiros, professores, policiais e jornalistas. Normalmente, profissões com elevada carga horária, pressão, cobrança e riscos de vida.
Sintomas da Síndrome de Burnout
Por se tratar de um estresse crônico relativo ao trabalho, essa síndrome é composta por três dimensões:
- Exaustão emocional: sensação de esgotamento físico e mental, em que o indivíduo sente cansaço extremo e não consegue aguentar a rotina profissional;
- Despersonalização ou cinismo: comportamento apático, distante, insensível e/ou hostil com colegas do trabalho, clientes ou quem recebe o cuidado/serviço;
- Baixa realização pessoal: sentimento persistente de incompetência, perda de produtividade e sensação de frustração pessoal e profissional.
Os principais sintomas de burnout são:
- Agressividade;
- Alterações repentinas de humor;
- Ansiedade;
- Ausência no trabalho;
- Baixa autoestima;
- Cansaço constante;
- Depressão;
- Dificuldade de concentração;
- Distúrbios gastrointestinais e/ou respiratórios;
- Dor de cabeça;
- Dores musculares;
- Hipertensão;
- Insônia;
- Irritabilidade;
- Isolamento social;
- Lapsos de memória;
- Palpitação;
- Pessimismo;
- Pensamento suicida.
Dados preocupantes
Se os profissionais da saúde já eram considerados grupo de risco para o burnout há mais de 50 anos, a pandemia acelerou a previsão de que cada vez mais esse grupo será afetado pelo esgotamento profissional. Um fato que acende um sinal de alerta para o cuidado psicológico. Um levantamento do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), feito antes da pandemia, já mostrava que um em cada seis profissionais da área sofriam com burnout.
Situação que só piorou com a rotina exaustiva de combate ao coronavírus. De acordo com um estudo da healthtech PEBMED, 78% dos profissionais de saúde tiveram sinais de Síndrome de Burnout no período da pandemia. A prevalência foi de 79% entre médicos, 74% entre enfermeiros e 64% entre técnicos de enfermagem.
O principal motivo é que a situação pandêmica ocasionou uma sobrecarga física e mental aos profissionais da saúde, além da rotina já exaustiva que esses trabalhadores enfrentavam. Por exemplo, carga horária extrema, com dupla e até mesmo tripla jornada, redução do convívio social, já que os trabalhadores da linha de frente acabam evitando o convívio com familiares e amigos para não transmitir doença, ocasionando um isolamento físico similar a solidão.
Além disso, é preciso considerar a sensação constante de luto, tanto pela perda de pacientes que estavam pelos cuidados deles, quanto de entes queridos. Tudo isso cria uma condição extremamente esgotante para esse grupo. A Síndrome de Burnout está associada também a um aumento nos erros médicos, custos com tratamentos e agravamento dos sintomas ao longo do tempo.
Saúde mental em foco
A saúde mental é uma temática que vem sendo discutida cada vez mais. Da mesma forma que as enfermidades que acometem o corpo necessitam de cuidados, as doenças mentais também precisam de atenção e tratamento. Com o aumento de estresse no trabalho, o que é potencializado em determinadas profissões, como é o caso de médicos e enfermeiros, buscar ajuda para lidar com a situação é sempre um caminho a ser incentivado.
Quando não tratada, a síndrome de burnout pode evoluir para quadros ainda mais complexos, como uma depressão profunda e até mesmo levar o indivíduo a vícios em substâncias nocivas. Portanto, uma pessoa que se identifica com os sintomas dessa doença deve procurar ajuda especializada com psicólogo e/ou psiquiatra.
Somente um profissional capacitado estará apto a entender a situação de cada indivíduo, e, junto ao paciente, encontrar mecanismos para identificar o que pode ser mudado, lidar com o dia a dia, superar esse quadro e restaurar a saúde e bem-estar. Apesar disso, ao observar uma pessoa próxima que esteja passando por um potencial burnout, familiares, amigos e colegas de profissão devem acolher e incentivar que a pessoa busque ajuda.
Compartilhe este conteúdo nas suas redes sociais!