Estima-se que 80% das infecções humanas, e 60% dos quadros de infecção hospitalar, tenham relação com biofilme. Como falado no artigo anterior, biofilmes são comunidades microbianas aderidas à uma superfície e envolvidos em uma matriz de substâncias poliméricas extracelulares (EPS).
É o biofilme que protege e confere resistência às bactérias, inclusive contra a ação de antibióticos, tornando mais difícil a eliminação delas de superfícies e o tratamento no caso de infecções. Isso eleva as taxas de morbimortalidade, tempo de internação e gastos com a saúde.
Dessa forma, é preciso prevenir o surgimento de biofilmes em ambientes de saúde. Basicamente, há possibilidade de formação de biofilme em qualquer lugar onde exista a combinação de superfície, líquido e micro-organismo.
Onde se localizam os biofilmes
Nas instituições de saúde, a principal fonte de contaminação são os instrumentos cirúrgicos e demais aparelhos usados em procedimentos médicos. O não processamos correto dos PPS faz com que eles se tornem um local propício para a formação de biofilme. Consequentemente, podendo ocasionar uma infecção hospitalar.
Esse é o caso, por exemplo, de próteses, cateteres, estetoscópios, endoscópios, instrumentos cirúrgicos, implantes, lentes de contato, entre outros. Do mesmo modo, biofilmes podem surgir em máquinas e equipamentos em contato direto com pacientes.
Biofilmes também podem se formar em uma pessoa independentemente da presença de dispositivos médicos. Isso acontece com a placa bacteriana nos dentes, da fibrose cística que afeta o pulmão e da prostatite nas vias urinárias.
Entretanto, geralmente, as infecções por biofilme estão associadas a um corpo estranho, como sondas, implantes e cateteres. A inoculação de microrganismos nessas superfícies pode acontecer durante a implantação cirúrgica ou manipulação pelas mãos dos profissionais.
As maiores fontes de microrganismos em instituições de saúde são:
- pacientes, por meio da pele e mucosas, focos de infecção à distância ou bacteremias;
- profissionais de saúde, por contato pelas mãos ou durante procedimentos;
- ambiente, pela água e anti-sépticos contaminados.
Infecções humanas associadas à formação de biofilme:
- Cárie dentária (Streptococcus spp.);
- Periodontite (Bactérias orais anaeróbicas Gram-negativas);
- Otite Média (Haemophilus influenzae não-tipáveis);
- Amigdalite crônica (várias bactérias);
- Fibrose cística (Pseudomonas aeruginosa, Burkholderia cepacia);
- Endocardite (Streptococcus do grupo viridans e Staphylococcus spp.);
- Fasciite necrosante (Streptococcus do Grupo A);
- Infecções musculoesqueléticas (Cocos Gram-positivos);
- Osteomielite (várias bactérias);
- Infecção do trato biliar (Bactérias entéricas);
- Infecções renais por pedra (Bacilos Gram-negativos);
- Prostatite bacteriana (Escherichia coli e outras bactérias).
Infecções associadas a equipamentos e dispositivos:
- Lentes de contato (P. aeruginosa e cocos Gram-positivos);
- Suturas (Staphylococcus spp.);
- Pneumonia associada ao sistema de ventilação (Bacilos Gram-negativos);
- Válvulas mecânicas cardíacas (Cocos Gram-positivos);
- Desvio arteriovenoso (Staphylococcus spp.);
- Infecções em cateter endovascular (Staphylococcus spp.);
- Tubos endotraqueais (várias bactérias e fungos);
- Desvio de líquido cefalorraquidiano (Staphylococcus spp.).
Biofilme e infecção hospitalar
Bactérias presentes em biofilme podem causar quadros graves de infecção hospitalar. Em muitos casos, há certa dificuldade em realizar o diagnóstico preciso da infecção, o que compromete o tratamento. Portanto, é importante reduzir ao máximo a probabilidade de surgir biofilmes no ambiente.
A prevenção de biofilmes em espaços de saúde acontece reduzindo a presença de micro-organismos no ambiente e atuando na limpeza de superfícies, para não favorecer a adesão de bactérias. Isso pode ser feito por meio de boas práticas de biossegurança, manejo de pacientes, correta higiene e assepsia de mãos e PPS.
Dicas para prevenir a formação de biofilmes
Cuidar na seleção de artigos
O plástico é uma superfície que facilita a aderência de micro-organismos. Por isso, deve-se priorizar artigos de metal, principalmente aço-inoxidável. Seguindo o mesmo princípio, escolher artigos fáceis de desmontar, que tenham poucas reentrâncias e resistentes aos produtos químicos usados na limpeza e assepsia.
Priorizar equipamentos que facilitem a limpeza
Equipamentos usados no processamento de PPS podem servir de ponto de formação de biofilme. Isso acontece porque em muitos casos a superfície dos aparelhos concentram líquidos e presença de micro-organismo. Portanto, equipamentos devem ser selecionados observando se contam com autolimpeza ou se permitem limpeza periódica.
Avaliar os protocolos de processamento
Entendendo como é a formação de biofilme, os enfermeiros possuem maior competência para avaliar e melhorar os protocolos de processamento de PPS. Basicamente, sempre que houver a combinação de uma superfície que facilite a aderência, com um meio líquido e a possível presença de micro-organismos, os cuidados preventivos devem existir para evitar essas condições e reduzir a probabilidade de infecção hospitalar.
Falhas na limpeza
Por conta das particularidades mencionadas, remover biofilme é uma tarefa extremamente difícil. Logo, qualquer falha na limpeza pode permitir acúmulo de matéria orgânica, protegendo os micro-organismos da ação dos produtos desinfetantes e esterilizantes.
Soluções enzimáticas
Compostas por enzimas — normalmente lipase, protease e amilase —, surfactantes e solubilizantes, as soluções enzimáticas quebram as ligações moleculares das matérias orgânicas, por meio de reações químicas. Dessa forma, auxiliam a remover os micro-organismos presentes nos artigos durante a limpeza mecânica e prevenindo uma nova formação de biofilme, já que o substrato para o crescimento foi eliminado.
Saiba mais sobre o papel da solução enzimática na remoção de biofilmes e prevenção de infecção hospitalar em nosso próximo artigo, no qual falaremos especificamente sobre os detergentes enzimáticos e os benefícios dessa solução para instituições de saúde. Até logo!